quinta-feira, 28 de maio de 2009

O mundo material

Existem quatro tipos de homem a saber:

1) Aquele que fala muito e não faz nada;
2) Aquele que fala muito e faz muito;
3) Aquele que não fala nada e não faz nada;
4) Aquele que não fala nada e faz muito.

Passaremos pois à análise desses quatro tipos fundamentais de indivíduos.

1) Basicamente, no mundo prático esse homem pertence à classe daqueles que se consideram injustiçados pelo mundo e pelo resto da humanidade. Seu passatempo favorito e razão de sua existência resume-se em lamentar tudo que acontece à sua pessoa; se algo ruim acontece, afirma ser o mais desaventurado dos homens (embora quase nunca analise se os acontecimentos são conseqüência de seus atos...). Surpreendentemente, quando calha da vida lhe apresentar surpresas agradáveis, também reclama; afirma que ele merecia mais, diz também que os outros fazem a mesma coisa e agem da mesma maneira que ele e recebem da vida muito mais em troca.
Obviamente, um sujeito dessa espécie jamais estará satisfeito com coisa alguma. Conclui-se então que a solução para seus problemas consiste em que o restante da humanidade sacrifique-se para atender seus pedidos e desejos, pois só assim será feita a justiça (de acordo com seu raciocínio altamente parcial). Claro, ou você por acaso acha que vale a pena perder uma noite de sono para fazer coisas que ele considera deveres de outros?
Este tipo de homem tem como habitat natural os bares e afins, ou seja, onde houver bebida ou qualquer outra coisa que o faça esquecer-se das mazelas desta vida, pois motivos não faltam a ele para lamentar-se.

2) Este tipo de homem provavelmente sofre de insônia, ou o que é muitíssimo mais co-
mum, é um mentiroso de marca maior.
Digo isso porque tanto para falar como comadres desocupadas à saída da igreja, ou trabalhar como um chinês, é necessário considerável número de horas do dia; como o dia terrestre possui 24 horas, o dito sujeito ou é falador ou é trabalhador, jamais os dois, a não ser que alterem-se o número de horas do dia para trinta e seis ou quarenta e oito.

3) Já o terceiro tipo, é difícil de detectar, pois pelo fato de não falar nada, passa des-
percebido aonde quer que vá, se é que vai a algum lugar; seu passatempo predileto é recostar-se em algum canto e esperar o dia terminar. O problema é que após um dia sempre vem outro.
Como também não é adepto de qualquer esforço físico, a não ser aqueles necessários à manutenção do seu estado semi-vegetativo, não é visto com freqüência em lugares onde não seja possível deitar-se ou encostar-se. A posição que lhe é mais dificultosa é a vertical.
Semi-vegetativo? Sim, digo isso porque até as plantas, nossos irmãos vegetais, crescem e produzem beneficios para outros que não elas mesmas, por isso considero injustiça comparar um maravilhoso vegetal a esse tão odioso lesmão humano.


4) Eis o tipo de indivíduo que é difícil de encontrar, não por ser superior ou mais raro
do que os demais (embora esta afirmação não seja de todo falsa...), mas por geralmente estar ocupado demais para perder tempo com reclamações inúteis e lamentações que não levam absolutamente a nada; enquanto os outros gastam o seu tempo (que têm de sobra) pesando e repesando os prós e contras de tal ou qual atitude a ser tomada, ele já começou e terminou.
Ele nunca esquece que nosso mundo é um lugar prático, em que as decisões espirituais nada valem se não forem convertidas em ações efetivas.
Para encontrá-lo é só ir aonde os outros geralmente não costumam freqüentar; lugares onde se trabalha, onde se estuda, e demais localidades onde a posição mais comum é a vertical, além também de serem lugares nos quais os braços, as pernas e a cabeça substituem a língua no dispêndio das energias.





Neste mundo material os raios do espírito somente revelam-se se existirem aplicações práticas onde essas radiações possam tornar-se visíveis, assim como os raios X são inúteis se não se revela a chapa.

Para aqueles que são adeptos das religiões, sejam quais forem elas, vale a pena lembrar de que somente a intenção não leva a nada. De que adianta ficarmos em casa lamentando a má sorte das crianças vítimas da fome ou violência, se ao desligarmos a televisão preocupamo-nos mais com qual vestido nos servirá melhor ou qual novo modelo de celular é o mais sofisticado? De que servem milhares de orações, admoestações e exortações ao Deus de cada um de nós feitas no ambiente seguro e confortável de uma igreja, se ao sairmos de lá logo corremos a falar mal do vizinho, ou recusamos assistência àqueles que necessitam de nós? Qual a utilidade da caridade exercida somente dentro de um mesmo grupo, ou então condicionalmente, onde somente os “escolhidos” são julgados merecedores das graças? Teremos nós discernimento ou parâmetros para considerar isto ou aquilo melhor ou pior do que as escolhas alheias? Serão casos de personalidades duplas, que dentro da igreja reviram os olhos para o alto, cantando hosanas e louvações ao Criador, e do lado de fora despem a casaca que esconde sua verdadeira personalidade, como se rezas e velas acesas pudessem convencer o Pai Celestial daquilo que no fundo não somos.

Mais vale o ateu ou o herege que ajuda o próximo incondicionalmente do que o religioso que age egoisticamente, ajudando o próximo somente na medida em que estes atos possam reverter-se em benefícios futuros, como se fosse uma conta bancária cujo saldo na hora do juízo divino garantisse um lugar melhor ou pior no céu proporcionalmente ao montante acumulado em anos de hipocrisia.