terça-feira, 10 de março de 2009

A evolução circular


Poucas coisas neste mundo são tão absolutas e verdadeiras como o círculo, essa figura geométrica que materializando-se na forma da roda pelas mãos de algum inspirado troglodita de um passado distante, livrou o homem, pelo menos em parte, do esforço inútil que entravava o rápido desenvolvimento da civilização. Mas deixemos de dissertações longas e sem utilidade, pelo menos por enquanto, e concentremo-nos no estudo da influência do círculo na evolução humana.
Quase tudo que possui soberba importância neste mundo, seja objeto na forma material ou imaterial, possui forma circular. Esta constatação foi feita após incontáveis horas de ócio criativo passadas na rede de minha residência, e altamente estimulada por inúmeras taças de um excelente vinho chileno. É como afirmei em outra anterior postagem: como dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, quando bebemos, ao mesmo tempo em que o álcool entra em nosso cérebro, automaticamente as idéias vão saindo; por isso o dogma particular que diz que o sujeito que bebe é mais criativo.
No campo da matéria perceptível pelos nossos cinco sentidos, o círculo encontra-se presente, como percebi obviamente, no formato de nosso planeta. Daí decorre que tudo o mais deve ou deveria estar de acordo com esse formato, pois acredito que seja do conhecimento da maioria que as coisas redondas (que não é senão um círculo tridimensional) adaptam-se melhor a outras coisas redondas.
Continuando com esse raciocínio altamente científico, fica fácil então imaginar todos os objetos que possuem essa forma: a roda, o hélice, enfim, tudo aquilo que significa movimento, rapidez, associados comumente aos meios de transporte, que foram os maiores impulsionadores do progresso humano. Deduz-se então que o significado implícito do círculo é a evolução, o impulso à frente. O termo evolução, por conseguinte, é o correspondente metafísico do círculo. É o círculo imaterial.
Mas meus pensamentos foram bruscamente interrompidos quando por acaso um jovem com inúmeros acessórios metálicos grampeados em várias partes do rosto, mais conhecidos como piercings, esbarrou em meu braço, ocasionando, além de pensamentos impublicáveis, a queda da taça de vinho que estava sobre a mesa do bar (sim, o balcão ou a mesa do bar é o meu desktop).
Após solicitar ao garçom outra dose da bebida, poucos segundos depois, minha inteligência refinada captou uma mensagem, um sinal: aquele incidente chamou a atenção para o fato de que o ser humano está obviamente inserido no contexto circular metafísico da evolução, porém algo estava errado, o que seria?
Como sou um sujeito modestíssimo no auto-julgamento, com a genialidade que me é característica, digo com plena certeza que o homem evolui circularmente, mas infelizmente a roda patina e não vai para a frente. Explicarei.
Desde o tempo do Neandertal, tenho certeza absoluta de que o homem evoluiu. Naquela distante época, o homo sapiens começou a sentir desejos de enfeitar-se; penas de aves espetadas nas orelhas, pedaços de pau entalhados atravessados nos lábios, e muitas coisas mais. Para o bruto daquela era, um graveto espetado no queixo deveria causar a mesma impressão que uma jóia da H.Stern causa hoje. Muda-se a forma, mas mantém-se a essência.
O piercing, então, seria o fechamento do círculo da evolução referente aos adornos faciais, só que percebam que não houve evolução, voltamos à estaca zero nesse item.
Indo mais além, já na terceira ou quarta taça de vinho, concluí então que algo semelhante pode acontecer nos outros ramos da história humana. Mas isso ficará para uma outra postagem, por enquanto devo encerrar aqui pois já estou com excesso de idéias saindo da cabeça....

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