quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Andando em círculos


Fé - s.f. (Do lat. Fides) Adesão total do homem a um ideal que o excede. Muito se tem falado a respeito dela; pessoas morrem por devoção à fé, mentes são dominadas, grandes coisas são atribuídas a ela, talvez seja a fé que nos conforte e nos dê esperanças acerca de um futuro incerto, não necessariamente ruim, enfim, a despeito da definição supra citada, qual o significado, e por quê ela é inerente ao ser humano? Não posso responder pelos outros por motivos óbvios, por isso falarei por mim. Desde os primórdios da minha jornada nesse mundo, na qualidade de ser humano, com todas aquelas atribuições que a maioria de vocês já estão cansados de saber, tenho me questionado: “Sim, talvez tenha uma noção do que seja a fé, mas, e daí?” A vida não se resume e talvez nem seja o ato de encontrar respostas, mas sim, a própria busca em si. Partindo-se desse princípio, na busca por respostas, não no intuito de encontrá-las, mas sim, com a intenção clara de vivenciar cada minuto dos caminhos prováveis que nos conduzem a que chamaríamos de “verdade”, senti que andava em círculos, pois cada caminho terminava em algo que só poderia ser explicado, ou melhor, intuído através da fé; fechava-se assim mais um círculo dentre tantos já fechados. Ficava no ar a seguinte questão: Seria a fé então a razão de viver, ou a razão de viver seria a fé? Mais um círculo a ser fechado; busquemos então o porquê da fé, seja lá em quê. Fé cega, acreditar em algo simplesmente por acreditar, sem questionamentos. Certo ou errado, não sei, para mim, apenas insatisfatório, o que não seria nenhuma novidade, em se tratando de uma pessoa cética em relação a muitas coisas. Raciocínio? Sim, a razão expõe, disseca, prova por A+B que isto é assim, porque X+Y=Z. Correto, mas também insatisfatório. Por quê? Porque o que nos leva a preferir a razão à fé simples é justamente algo que não pode ser explicado pela própria razão! Seria, por conseguinte, a fé oposta à razão.
Mas, ironicamente, o que me levaria a pensar assim, a não ser a própria fé na razão, que por si só não é prova de nada? Daí veio a questão da Fé Raciocinada. Como me sei possuidor de recursos linguísticos limitados, tentarei expor meu ponto de vista através de exemplos, pois assim conseguirei talvez ser mais claro, ou como alguns preferirem, menos obscuro. A questão eterna: Deus existe? Prove, então! Diria eu: “Impossível provar, embora sinta que ele exista”. Ridículo! Como assim, sentir, dê-me provas! Suponha que vivemos numa terra de cegos de nascença; um belo dia, você começa a enxergar, e proclama aos quatro ventos: “Eu vi a luz! Eu vi a luz!”. Verdade, óbvio, pois tanto eu como você sabemos que existe a luz, pois não somos cegos. Aí vem um dos cegos e pergunta: “Prove-me que você viu a luz, a luz não existe, isso é lenda! Aquilo que chamam de cor também é lenda!” Como provar a um cego que a luz e a cor existem? Chegamos a um ponto em que poderia-se dizer que algo pode existir ou não, dependendo do alcance de nossos sentidos físicos; começamos a sair do terreno do místico para o terreno da ciência tal e qual nós a conhecemos.
Tenho a intuição de que Deus existe; primeiramente, pelo próprio fato de negar a sua existência, o que nos leva a pensar que só podemos negar aquilo que pode existir, seja lá em que dimensão; damos a nós mesmos o benefício da dúvida. Coisa mais banal, mas não desprezível, seria o fato de quase sempre grafarmos a palavra “Deus” com inicial maiúscula, mesmo aqueles que não crêem nele, o que não faz sentido; não se pode e nem haveria como prestarmos deferência à algo que não existe. Enfim, posso, na minha concepção, definir Deus como “algo” que não conseguiria provar a existência justamente por falta de definição; mas seria essa falta de definição prova de sua não-existência? Como na história dos cegos, poderia ser simplesmente falta de alcance de nossos sentidos enquanto seres humanos materiais. Não tenho a intenção de me auto-denominar sabedor da verdade, pois acredito que a verdade só existe enquanto conceito, conceito este que pode ser derrubado por qualquer outra coisa que se denomine também “verdade”. Tudo é verdade sob o ponto de vista daquele que assim crê, porém cada um vê as coisas de uma maneira particular; portanto, só existe a nossa verdade. Enquanto isso, fico com a “minha” verdade: A fé existe sim, porém só em relação à coisas que sabemos intimamente existir, coisas percebidas por algo que o homem vai um dia perceber: Uns chamam de intuição, outros de sexto sentido, não importa qual nome lhe seja dado, o que importa é que não há como negar, pelo menos para mim.

Qual é a SUA verdade?

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